A RELATIVIDADE E SEU OCULTISMO
Leonardo Motta <lmotta@socrates.if.usp.br>
Recentemente, professores do IF, e um colega do ICMCSC entraram num
embate sobre relatividade. Concentrando-se na insanidade do artigo, os
professores do IF transmitiram a idéia de que a relatividade é “intocável”
e que os jovens ao aprenderem a relatividade são inibidos a discuti-la
(como observou um professor da FFLCH em carta ao Jornal da USP).
Ora, isso está longe de ser verdade.
Desde o nascimento da relatividade o estudo crítico nunca cessou, e
ilógico seria pensar que assim o foi, confundido a produção cética com o
sonho religioso.
Por exemplo, muito há se discutido o significado da constate c. Já em
1905, Sommerfeld demonstrou que embora v > c fosse aparentemente proibido
pelas transformações de Lorentz, na eletrodinâmica de Maxwell isso é
perfeitamente coerente. Tal resultado foi explorado e expandido na eletrodinâmica
quântica (a versão quântica do eletromagnetismo), notavelmente por R. P. Feynman
e J. A.
Wheeler que introduziram processos virtuais superluminais, i. e. mais
rápidos que c, e de viagem no tempo, para compreender fenômenos fundamentais
como a troca de fótons virtuais e a anti-matéria [1]. Em óptica quântica já
foram medidos sinais de ordem 10c através de experimentos de reflexão total
[2] e até 300c em meios atômicos [3]! Sabemos que muitas galáxias emitem jatos
aparentes de partículas superluminais [4]. Nos modelos de supercordas, soluções
conhecidas como "tachyonicas" emergem naturalmente [5]. Isso só para
citar os mais famosos.
Ao contrário do que possa parecer, todos esses resultados são
Perfeitamente compatíveis com a relatividade. Na verdade, alguns emergem dela
própria! Einstein e seu colega Natan Rosen, extrapolando a solução do
buraco-negro de Schwarzschild, encontraram a primeira solução de viagem v > c
no domínio da Relatividade Geral. As pontes de Einstein-Rosen, como são chamadas,
foram largamente estudadas por físicos proeminentes como Kip Thorne
(Princeton), Stephen Hawking (Cambridge) e Roger Penrose (Oxford), a tal medida que
hoje já possuímos diversas aproximações de “máquinas de viagem no tempo Não
menos famoso é o resultado de J. S. Bell que expande o paradoxo
Einstein-Podolsky-Rosen (EPR), permitindo viagens no tempo no domínio
da mecânica quântica [6], que levou o matematico e fisico romeno Florentin
Smarandache a desenvolver uma teoria que permite transmitir informacoes
a velocidades arbitrarias (ou seja, altas quanto se queira; ver a hipótese de Smarandache) [7].
Munido de tantos resultados experimentais e previsões teóricas que
parecem ser contraditórias à idéia de que ‘c’ seja um limite na Natureza,
é famosa a discussão atual do significado da constante ‘c’no meio acadêmico.
Alguns chegam a afirmar que a teoria da relatividade sucumbe a tais resultados
[8], mas esses ficam em situação delicada, pois a premissa elementar da qual
nasce a teoria da relatividade, a idéia de que o “repouso”e o movimento
retilíneo uniforme são indiscerníveis, não se trata de um princípio ao qual
alguém chega depois de anos de reflexão, mas sim de um fato experimental
(sendo a experiência de Michelson-Morley a mais famosa, mas não a única!).
Hoje a discussão da relatividade acontece em todos os periódicos (das
modestas publicações brasileiras a Lett. Phys. e Nature) e envolve físicos de
Princeton, Berkeley, Cambridge, leste europeu, Índia, enfim, de todo o globo.
Ainda há muito para compreender a relatividade, e talvez essa
compreensão virá de teorias mais profundas das forças fundamentais, para
além da física de partículas já solidamente estabelecida.
[1]: Para mais detalhes veja Feynman, R. P. “QED: The Strange Theory of
Light and Matter”, Princeton Univ. Press (1988); e Herbert, N. “Faster than
Light”, New Am. Trade (1995).
[2]: Nimtz, G. Ann. Phys., 7 (1998), no. 8, p. 618. Chiao, R. Phys.
Lett., A246: 19-25 (1998).
[3]: Wang, J. L. et al. Nature 406, 277-279 (20/06/2000).
[4]: e.g. observações da NASA
http://science.nasa.gov/newhome/headlines/ast11jun97_1.htm
[5]: “Tachyon” do grego tachys, significa veloz. Alguns modelos são
ceifados e não apresentam modos tachyonicos, que poderiam explicar, por exemplo, a
matéria escura.
[6]: Herbert, N.; Thorne, K. “Black holes and time warps”: W. W. Norton
& Comp. (1996)
[7]: Smarandache, F. There is no speed barrier in the Universe. Bull.
of Pure & App. Sci., Delhi, India. Vol 17D, No. 1, p. 61 (1998),
http://fs.unm.edu/NoSpLim.htm
[8]: Por exemplo, Rodrigues, Jr. W. A., Maiorino, J. E., Random Oper.
and Stoch. Equ., vol. 4, 355-400 (1996), physics/9710030; Recami, E.
physics/0109062